Solidão Urbana


(...) Por mais paradoxal que possa parecer, a solidão é doença nativa da cidade, das grandes aglomerações humanas. Nas cidades, por ironia de Deus ou do diabo, os solitários são muitos e estão em todos os lugares. Seguem morrendo aos poucos nos bares e dentro de quartos, varando madrugadas sinistras com a ajuda da pornografia em banda larga e álcool, muito álcool. Eles estão nos cinemas, comendo pipocas sozinhos. E nos escritórios, calados e comportados atrás de seus computadores." - Do prefácio de A Cabeça é a Ilha


O prefácio se refere à Solidão Urbana – considero uma experiência ambígua, pois envolve uma atmosfera de pensamentos diversificados e incertos.

Em minha opinião, a Solidão Urbana é o segundo pior tipo de solidão que alguém possa sentir (a primeira é solidão à dois). A Urbana consiste da sensação em que as pessoas que vivem nas cidades densamente habitadas se sentem mais sozinhas do que as que vivem em cidades menores e menos habitadas.

Pelas ruas, cada um caminha acompanhado de seus objetivos, suas metas, seus sonhos, seus deveres, suas preocupações, seus horários....porém solitários na multidão.

No trânsito, as ruas lotam no físico mas estão vazias no psíquico e assim também ocorre nos ônibus, no vagão de metrô, nos elevadores e até em algumas festas.

As mentes solitárias divagam pela cidade, pensativas e isoladas. Em lugares lotados pessoas se empurram no tal paradoxo. Cheio e vazio se esbarram!

Tem aquelas pessoas que insistem em puxar aqueles malditos assuntos metereológicos ou qualquer comentário fútil. Isso reflete o tentativa de escapismo da solidão urbana. Normalmente falha, pois a outra pessoa sempre vai concordar que “está calor hoje” ou que “está frio hoje” ou com o comentário fútil que fulano fizer, aí o diálogo acaba e volta o vazio.

A típica solidão que sentimos quando estamos literalmente sozinhos em casa, nunca me abalou. Ela pode ser boa, faz parte do auto-conhecimento e reflexão. Lembrando que nós constantemente estamos propícios a nos perder e nos achar novamente. Para isso serve a solidão “boa”. Quando alguma parte de nós se perdeu ou quando precisamos organizar as idéias dentro de nós mesmos essa solidão é o momento de recuperação, o momento de encaixar as peças e entrar em sintonia com nós mesmos.

A solidão à dois que no meu conceito ganhou o troféu de pior tipo de solidão que alguém possa sentir é a solidão existente entre duas pessoas. Entre casais que estão juntos porém se sentem sós, entre amizades fúteis quando acaba o assunto da novela ou futebol formando uma lacuna entre as duas pessoas, entre pai-filho, entre mãe-filho, entre aluno-professor. É a morte do diálogo, a falta de expressão, a falta de tempo e a mania de praticidade. É esse subjetivismo que nos isola e nós faz sentir sós.

Falamos eloqüentemente do mundo em que estamos, mas não sabemos falar do mundo que somos, de nós mesmos, dos nossos sonhos, dos nossos projetos mais íntimos. Não sabemos discorrer sobre nossas fragilidades, nossas inseguranças, nossas experiências.

O homem moderno é crítico para comentar o mundo em que está, mas emudece diante do mundo que é. Por isso, vive o paradoxo da solidão. Trabalha e convive em multidões, mas, ao mesmo tempo, está isolado dentro de si mesmo.



Sobre a virada cultural do fim de semana passado: Por um momento me senti num filme de Pedro Almodóvar pela quantidade exacerbada de gays, lésbicas e travestis. Havia muito lixo, mendigos e bagaços de laranja rs... Encontrei dois amigos meus que valeram a ida até a praça da república ^^

10 comentários:

Fry disse...

solidão pega forte as pessoas neh, já desejei tanto pra ter alguem do meu lado, conseguir ter alguem e ao mesmo tempo qndo eu as vezes tinha eu fzia de tudo pra me afastar, muitas vezes (falando da parte de solidão a dois, especificamente de amigos) tem muita gente q adora de morrer a gente e tipo não faz a nossa, sei lah me sinto meio culpado por não conseguir gostar de alguem q me acha tão importante, mas ao mesmo tempo não posso me culpa por uma coisa q não possa fzr parte de mim, a partir disso, por uma falta de tatro das pessoas só ajudamos a continuar esse ciclo de "ilha", realmente a cidade eh um mundo e cada pessoa eh um outro mundo, mas de qlqr forma acho q tb a gente qr criar o nosso mundo com pessoas q qrmos dentro dele, o problema eh q muuuuuita gente tem uma placa de "há vagas".

eh, sobre a virada cultural... eu odeio lugar cheio, odeio mesmo aglomeração masssssss eu fui hehehe!! bom mas meu motivo foi encontrar alguns amigos e realmente o poko q eu fiquei com meus amigos q eu fui ver acabou valendo a pena hehe!!! viva a solidão!!! XD

Ovelha - Born to be Wild! disse...

Inspirada hehe...

O mais interessante é pensar que a solidão, historicamente, nunca esteve tão presente na humanidade como nos dias de hoje, apesar de termos hoje em dia menos sofrimento.

Acredito que a alienação proporcionada pelas drogas, internet, televisão e jogos eletrônicos nos impede em construir algumas pontes com outras pessoas.
E o que é mais triste: o dia em que percebermos que estas fontes de alienação não são nada demais, pouco teremos em relações intra-pessoais, o que nos prende mais ainda à isto, numa espécie de ciclo.

As pessoas hoje em dia encontram uma vida tão sem sentido, porquê é óbvio que o sentido, seja qual for, está em convivermos com nossos semelhantes.

Por mais contraditório que possa ser, hoje em dia são nos momentos de sofrimentos que mais necessitamos de alguém, e quando conversamos com outra pessoa, não é para estancar este nosso sofrimento: talvez seja apenas para preencher um pouco do vazio que se forma dentro de nós, pois no fundo ainda há um ser humano em nosso coração que não precisa de dinheiro, de alegrias, de sexo, alucinógenos, nem nada: precisamos apenas de um olhar.

David JC disse...

Concordo em partes , acho que a solidão realmente se dá mais nos grandes centros, por lá, existirem mais pessoas, então consequentemente existirá mais tudo, assalto, solidão, mortes, alegria.

Agora vejo a solidão mais como algo pessoal do que "global", vai muito da pessoa.

Unknown disse...

Gostei do seu blog e dos textos. Vou segui-la para ler com mais calma.
Adorei o template, acho que pegamos do mesmo lugar...hehehe...
Abs.

Joni disse...

Não tenho Solidão! Estou sempre perto das pessoas e as pessoas sempre querem estar perto de mim, isso faz com que eu necessite ficar sozinho as vezes, talvez para sentir um pouco de solidão "boa" e colocar as coisas no lugar. rs

Bjs

Júlio disse...

Incrível como vc acaba por pensar +/- que nem eu...
quando li o título e o "prefácio" pensei logo (vou escrever um comentário inteiro sobre a solidão a dois !!!) ai a srta escreve logo em seguida sobre a dita cuja !!!

É incrível essa sensação de solidão urbana/coletiva. É incrível como conseguimos senti-la pulsando em nossas veias...o "medo do desconhecido", o "medo dos outros", uma espécie de antropofobia moderna e coletiva.
As vezes até me pego em divagações de como somos um NADA perante o todo que é a sociedade e diante do TUDO que é a vida, e desperdiçamos nosso tempo pensando em NADA...simplesmente divagando dentro de um vácuo cerebral...nos drogando com música, leitura barata, programas de TV e esses lixos de video-game... onde está o contato? onde está a curiosidade de descobrir o outro e o "mundo que existe em cada um" ?
Esse medo do diferente, essa falsidade no agir entre os mais chegados...tudo isso é nojento...incrivelmente insoso e repugnante...
Muitos dizem "o mundo de hj é perigoso", "vc só vai se machucar". Eu digo que fomos feitos para tentar, fomos feitos para testar, e, acima de TUDO, fomos feitos para "viver pelos outros". O que é a pessoa sem o grupo em que está inserida !? O que é o indivíduo sem sua coletividade !?
EU respondo: NADA
Nossa vida é um turbilhão de emoções, sensações, sentimentos e quem somos nós para privar os outros de dividir isso !?

Somos quem temos, somos oq pensamos, somos oq ouvimos e somos oq lemos (e eu leio seu blog!)

As vezes me revolto um pouco com tudo isso...porque, escrevemos bravatas e mais bravatas e, no final das contas, nos pegamos fazendo tudo aquilo que repudiamos... nos segregando, nos isolando, fingindo que não foi com agente...essas merdas que docemente fazem parte de nós mesmos !!!

Muito bom o post !!!

Anônimo disse...

Continua a saga de um ser solitário, abrindo portas secretas e alimentando o que o faz bem...

É isso mesmo a solidão urbana é cruel e implacável, atinge as pessoas sem que as mesmas se dêem conta que ao invés de construir pontes constroem muros, e se escondem atrás deles impossibilitando que outras pessoas enxerguem a sua essência. Talvez isto seja uma forma de preservar-se sabendo que as maiorias das pessoas não fazem questão de conhecê-lo profundamente por medo de também expor suas fraquezas,
inseguranças, medos, sonhos, desejos, pensamentos, etc. Então o que falta para nós meros mortais é simplesmente demolir os muros que nos cercam, abrindo-se para as pessoas que realmente demonstram interesse em nos conhecer, projetar e transformar em realidade sólidas pontes que nos levarão a uma viagem em novos pensamentos, culturas... Saindo do nosso velho e conhecido “mundinho”.

Outro fator que sem dúvida nenhuma pode levar à solidão são os nossos hábitos, hoobies e/ou costumes, por exemplo, a internet é um grande paradoxo pois aproxima as pessoas que estão longe ao mesmo tempo que afasta as que estão por perto. Quantas vezes nós deixamos de conversar com irmãos, pais e amigos que estão ao nosso lado para ficar se divertindo com algo sem tanta importância na televisão ou na net.

Concordo que existe a solidão ‘boa’, aquela que é usada para momentos de reflexão, para pensar em nós e em pessoas que são indispensáveis em nossas vidas. No entanto esta solidão deve ser moderada, ou seja, não deve existir em demasia, pois pode tornar-se um hábito (risco de afastar pessoas).

Agora a solidão à dois, sem dúvida a pior solidão pelo fato de comprovar a teoria que as pessoas não tem o prazer ou a curiosidade em desvendar as mais profundas idéias da pessoa com quem se relaciona, seja este um colega, amigo(a), ‘ficante’, namorado(a), esposo(a)... Realmente é lamentável, e o que mais me deixa indignado é o fato das pessoas se acomodarem e aceitar esta situação, um sinal de fraqueza, perdendo o tempo que poderia ser contemplado de forma única. O tempo é sinônimo de vida, quando se perde tempo automaticamente ‘abre-se mão’ da vida que infelizmente é curta.

Lendo este ‘post’ lembrei de uma frase que o povo diz: “quando se encontra a pessoa certa elas se tornam uma só”. Como assim na matemática do amor 1+1=1???? Quer dizer que eu fui enganado pela tia ‘Zezé’ no 1º ano do ensino fundamental e desde então acreditei cegamente nela. Bom frustrações à parte (rs) e pensando sobre esta frase sou obrigado a descordar em partes, concordo que nessa matemática 1+1=1 quando o resultado 1 significa o singularismo de ‘construir uma vida’ à dois, mas descordo pois cada um tem suas particularidades, sua cultura, seus gostos, etc. Então pra mim 1+1=1.5 (kkkkkk).

Desculpe a redundância tenho o dever de registrar que este post está totalmente excelente, ótimo assunto.

Finalizo com Solidão por Chico Buarque:
“Solidão não é a falta de gente para conversar, namorar, passear ou fazer sexo... Isto é carência.
Solidão não é o sentimento que experimentamos pela ausência de entes queridos que não podem mais voltar... Isto é saudade.
Solidão não é o retiro voluntário que a gente se impõe, às vezes, para realinhar os pensamentos... Isto é equilíbrio.
Solidão não é o claustro involuntário que o destino nos impõe compulsoriamente para que revejamos a nossa vida... Isto é um princípio da natureza.
Solidão não é o vazio de gente ao nosso lado... Isto é circunstância.
Solidão é muito mais do que isto. Solidão é quando nos perdemos de nós mesmos e procuramos em vão pela nossa alma.”

Dessa forma tenho que ter a humildade de reconhecer meu erro no início do comentário, concluo que não sou solitário, apenas tenho saudades dos que não tenho a oportunidade de rever; busco equilibrar meus pensamentos; penso constantemente na vida; aguardo a circunstância adequada para substituir o vazio que me acompanha, sem “atirar” para todos os lados inconseqüentemente; e por fim vivo um estado de carência (tenho certeza que por pouco tempo, pois parece que já achei a musa da minha vida).
,
Bjos, do S E R
i e
m a
l

Paula disse...

Olá! Pois é, realmente os nossos templates são parecidos, o que é bom, já mostra que temos um gosto parecido...
Voltarei sempre, mas essa semana to realmente sem mto tempo de ócio... =(
bj

Anônimo disse...

O pior na solidão é quando se estar rodiado de pessoas, mas mesmo assim se sentir só.

Adorei conhecer seu blog

Bjo

Unknown disse...

Hoje estou curtindo a solidão opcional...mto bom o texto!

O meu blog está atualizado, passa lá depois! =)

Bjs

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