Eu aguardava na sala de espera quando a assistente veio com 2 cápsulas e 2 comprimidos num pequeno copinho de plástico e um copo com água. Me senti naqueles filmes de transtornos psiquiátricos que de repente chega uma moça sorrindo e diz “Tome. Aqui está sua medicação” e fica te olhando com o sorriso intacto esperando você tomar.

Ainda bem que era apenas amoxicilina e algum corticóide que não me vem na memória agora. Lá estava eu me preparando para extrair meus gloriosos terceiros molares superiores, popularmente conhecidos como “dentes do siso” ou ainda do “juízo”. Não estava muito convicta de que deveria realmente extrair o pouco de “juízo” que restava em mim, mas cedi a forças maiores... Depois terei a quem culpar rs rs.

Deitei na poltrona e em poucos minutos usufruía das picadas de anestesia. Em poucos minutos já não sentia minha boca, meus lábios e pasmem até minha língua não escapou dos efeitos da xelocaína (Claro que como toda boa farmacêutica, eu tinha que perguntar cada substância que colocam no meu corpo rs).

Não senti dor alguma, apenas um pouco de aflição ao sentir aquela pressão querendo arrancar de mim a parte primitiva que a evolução não teve tempo de evitar. Sim, há teorias que dizem que esses dentinhos chatos no passado eram úteis para nós humanos, porém a evolução da espécie humana acarreta encurtamento da mandíbula e falta espaço para o juízo, digo, os dentes do siso...

Ao som de “Have you ever seen the rain” (Creedence Clearwater Revival), eu assistia aquelas ferramentas odontológicas passearem pela minha boca... É curioso ver sangue e não sentir um pingo de dor XD

Quando o processo de extração dos dentinhos do juízo foi finalmente concluído, senti o consultório girar na tentativa tola de levantar rapidamente da poltrona. Lembrei do menininho do vídeo “Is this real life?” rs rs.... Claro que não era pra tanto, mas fiquei alguns minutos com uma tontura boba e imaginando que os consultórios deveriam ter algum quadro ou pintura interessante no teto para distrair os pacientes. Sim, porque se você observa o procedimento, capaz de algum impulso nervoso gerar uma “pseudo-dor-psicológica” induzida pela cena de sangue e bizarrices odontológicas. Se você fecha os olhos, você divaga demais e a voz do dentista fica longe demais para ser obedecida. Logo, resta olhar para algum ponto fixo no teto, desviando da luz que vem diretamente na sua cara... Enfim, eu sugeria uma pintura de “Salvador Dalí” ou aquela boca aberta do “Pink Floyd” (vide foto do texto - beeem sugestiva rs).

Agora estou em casa, com fome. “Ingerir apenas líquidos hoje!”. “Não ingerir nada quente!”. Estou entre sopa fria ou café morno. Sugestões?