Toda criança já deve ter brincado de ser adulto... Era quase que um estágio inatingível, longe demais porém desejado. Quando criança eu era atraída pela liberdade que os adultos tinham... ter chaves para todas as portas, fazer telefonemas importantes, dirigir pra lá e pra cá, fazer comprar, assinar cheques, passar cartões, ter várias senhas secretas e códigos indecifráveis, ir ao banco sacar dinheiro, entrar em lugares com as famosas advertências “Proibida a entrada de menores”. Parecia ser tudo tão fascinante, aquele mundo “proibido ou talvez impróprio para crianças”.
Eu particularmente adorava brincar de ser adulta, fazia cheques de mentira no valor que eu achasse melhor, cada dia inventava uma profissão nova, os nomes dos meus filhos mudavam constantemente, inventava várias tarefas e responsabilidades e quandoestava quase cansando e ficando entediada de tudo aquilo ouvia uma voz me chamando pra almoçar rs... Era tudo tão simples. Mergulhava num mundo cheio de coisas imaginárias e quando batia o sono eu simplesmente ia dormir e acordava com a única responsabilidade de ir pra escola e fazer a lição de casa.
Hoje em dia, insisto em querer brincar de ser criança. Disse querer, porque se fosse cabível faria com mais freqüência. O que mais admiro numa criança é a imaginação, na verdade a liberdade de imaginar o possível e impossível, o óbvio e o absurdo. A mente aberta sem filtros, sem tantos paradigmas, sem cores pré-definidas e sem limites...

Ano passado li “O caçador de pipas” e uma frase ficou intacta na minha cabeça.
A frase dizia “Crianças não são livros de colorir, você não pode preenchê-las com suas cores favoritas” Ilustra bem o fato de muitos pais quererem que seus filhos sejam como eles idealizaram... e como disse estamos falando de uma mente sem filtros, onde se absorve fácil tudo o que é visto ou ouvido... É como um aluno em seu primeiro dia de aula, ele tem tantas perguntas que colhe toda informação possível para depois decidir o que vai fazer com tudo aquilo... Vai acreditar nas verdades e nas mentiras e depois aprender a distingui-las... Falando em mentira, e já que mencionei “O caçador de pipas”, lembrei da outra frase que cutucou meus pensamentos enquanto escrevia. No livro um dos personagens diz que o único verdadeiro pecado é ROUBAR, porém ele abrange o significado e mostra a extensão do contexto roubar. Segue a frase:
“Quando se mente, está roubando de alguém o direito de saber a verdade.”

Naum roube de ninguém o direito de querer brincar de ser criança, que dure minutos, mas que o faça sentir a mesma serenidade, o mesmo deslumbramento, ou a mesma satisfação de que quando criança brincava de ser adulto. A criança que existe em você é responsável por grande parte dos seus atos que ti fazem sorrir e é ela que ti tornará perpetuamente peculiar.


Finalizando: “As crianças acham tudo em nada, os homens não acham nada em tudo."
Comentário sobre a frase: Permita-se valorizar as coisas simples.